SOU O QUE GOSTO...

Gosto de poentes avermelhados... Raios teimosos de sol colorindo o fim do meu dia. Viajar nos segredos de uma noite vermelha. Ver o sol desaparecendo nas águas do mar. Intuir promessas, adivinhar vontades, imaginar prazeres. Gosto de ser família... Dos pedaços de mim espalhados em cada um dos meus filhos, do meu amor que ora exige, ora permite... Do amor construído. Gosto do carinho, do respeito e da amizade entre nós. Gosto do som do silêncio... crio novas melodias que incorporo a mim, ouço minha alma, reconduzo meus sonhos, recrio a mim mesma. Viajo nas lembranças, nos desejos, nos projetos. Gosto de olhares... Olhares que prometem, que definem, que cultuam. Olhares que sorriem, que convidam, que arrepiam... Olhares que contam segredos que só a alma desconfia. Gosto dos amigos, de acarinhá-los e tê-los ao meu lado, sabê-los amados. Amigos de longa data, amigos de hoje, amigos de amanhã. Gosto dos carinhos trocados, das esperanças segredadas, das tristezas divididas. -Gosto de amor... Amor que invade, que remexe, que me tira o centro, que me joga nas nuvens. Amor-paixão que me liquidifica, me enlouquece e me faz fêmea. Sentidos em alerta, adrenalina em explosão, instintos em espiral. Gosto de água... Cachoeiras cristalinas fazendo crescer as minhas vontades. Marés que vão e vêm beijando o meu corpo. A água do chuveiro me acariciando, agua limpando meus pesadelos, clareando meus desejos, aumentando minhas esperanças. Gosto da sedução... Palavras subentendidas, o conversar nas entrelinhas, as trocas inteligentes. Gosto da excitação de entrar aos poucos na alma, descobrir o outro. Deixar cair os meus véus, devagar, levemente. Gosto do Inverno... Das tardes que morrem silenciosas. Dos arrepios do meu corpo. De ficar quietinha dentro de edredons. De me esquentar no corpo do parceiro. De sentir o tempo me escutando. De vinho, lareira, tapete felpudo, beijo quente. Gosto de sons... Rock e MPB em diferentes decibéis. Música clássica no silêncio da poltrona. Som de risos cristalinos, de amor barulhento, de gente feliz. Som da chuva, do vento, do carinho trocado, do beijo roubado. Gosto de Deus... Deus que não me julga nem me castiga nem aponta meus erros. Deus que existe para ser a minha esperança. Gosto de muitas outras coisas... Coisas que me fazem, que me refazem, que me acrescentam. Gosto especialmente de mim. Das minhas incoerências, dos meus descaminhos, dos meus reencontros, das minhas dúvidas, das minhas verdades, das minhas loucuras, dos meus pecados, das minhas paixões. Gosto da minha dualidade que às vezes se torna múltipla e da unidade que me faz mulher.